"Nunca se pede à família que assine um papel para que a equipa médica desligue as máquinas a um doente com o diagnóstico clínico de morte cerebral", garante ao Expresso o presidente do Colégio da Subespecialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos e do Colégio Europeu de Cuidados Intensivos, Rui Moreno.
A propósito da suposta morte cerebral em que se encontrará o cantor Angélico, o especialista explica que "a morte cerebral é um diagnóstico como qualquer outro em Medicina e que, inclusive, está regulamentado na Lei Geral".
Aliás, Rui Moreno alerta: "Perante a lei portuguesa, quando os médicos fazem o diagnóstico de morte cerebral, a pessoa passa a ser cadáver e qualquer manobra clínica, como o suporte artificial de vida, passa a ser crime de profanação de cadáver".
Diagnóstico de morte cerebral
1.Saber por que razão o doente está em coma (sem reação a qualquer estímulo) e ter a certeza de que não foi induzido por fármacos ou outras substâncias
2.Realizar um conjunto de provas (cerca de dez) para verificar se o tronco cerebral - que controla as funções mais básicas - está a funcionar
3.Se os testes realizados mostram que não há resposta, é declarada a morte cerebral
4.A morte cerebral é atestada por dois médicos especialistas em Neurologia, Neurocirurgia ou com experiência em Cuidados Intensivos e um dos clínicos não pode pertencer ao serviço onde o doente está internado
5.As provas para comprovar a inatividade do tronco cerebral são repetidas conforme a idade do doente, geralmente, ao fim de duas a quatro horas num adulto
6.Caso uma das provas não tenha sido possível de realizar ou seja inconclusiva, são feitos meios complementares de diagnóstico para determinar se há circulação ou atividade elétrica no cérebro, injetando um contraste. Em caso de morte cerebral, a pressão no interior do crânio é superior à do exterior e o contraste não será visível no tronco cerebral nem no encéfalo (o cérebro propriamente dito)
7.Confirmada a morte cerebral, os dois médicos desligam o suporte de vida, no caso a ventilação. A quantidade de oxigénio irá, então, diminuir na interior nas células e os órgãos param. O processo demora perto de cinco minutos.
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